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Colunista convidada: Suze Lino | Crianças no Casamento: Participação Real ou ApenasTolerada?

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Falar sobre inclusão infantil em casamentos pode parecer simples, especialmente para alguém como eu que ama ver crianças participando de momentos marcantes. Mas como gosto de sair da minha própria vivência e explorar outros pontos de vista, fui pesquisar mais sobre o movimento chamado child-free, que significa a escolha consciente de não ter filhos e, em alguns contextos, de não desejar a presença de crianças em determinados espaços, como casamentos.

Foi nessa pesquisa que me deparei com uma frase que me incomodou profundamente: “Nem todo mundo gosta de crianças. Mas quem ama as rosas, suporta os espinhos.” Confesso: essa comparação me causou um desconforto imediato. Comparar crianças, que são pessoas em pleno desenvolvimento, com sentimentos, necessidades e potências, a espinhos que precisam ser “suportados” em nome de
algo maior é uma visão adultocêntrica, capacitista e profundamente excludente.

Essa ideia revela mais do que uma simples preferência. Ela reforça uma lógica em que a presença da criança só é permitida se for silenciosa, distante, comportada, desde que não “incomode” e nem “atrapalhe” o evento. Mas inclusão não é sobre tolerância. Inclusão é sobre pertencimento, sobre reconhecer que crianças têm direito ao espaço, ao afeto e à presença real, e não apenas à presença contida. E mais: todos nós fomos crianças um dia. Como, então, negar hoje o espaço que
um dia também nos foi essencial? O adulto de hoje carrega em si a criança que foi
ontem e não há inclusão verdadeira que ignore essa origem comum.

Tradições que sempre acolheram as infâncias

Antes das festas sofisticadas e protocolos sociais, os rituais de casamento, em suas origens mais milenares, eram vividos em comunidade. Celebrados em aldeias, vilarejos, roças ou quintais, eles envolviam todas as gerações: dos mais velhos aos mais novos. As crianças não eram um “extra” na celebração, mas parte essencial dela. Estavam no colo, correndo entre as pernas dos adultos, levando flores, rindo alto, aprendendo sobre amor, família e união com os olhos bem abertos.

Excluir as infâncias das celebrações modernas é, de certa forma, romper com essa
linha afetiva que atravessa gerações. Incluir crianças hoje é também um gesto de
preservação cultural, é manter viva a ideia de que a alegria compartilhada é mais
plena quando alcança a todos.

Felizmente, tenho visto cada vez mais casamentos com momentos lindos protagonizados por crianças com ou sem deficiência: votos com participação dos filhos ou até mesmo uma entrada especial de crianças convidadas para “abençoar” os casais com palavras próprias. E essas crianças se gabam por fazer parte desse momento, contam com orgulho quando chegam no nosso espaço de recreação, os olhos brilham e só vejo nessas horas um sentimento de muito orgulho e felicidade vindo delas, por isso digo e repito, as memórias afetivas que essas crianças levam desses momentos são
valiosas! E se o casamento é um rito de amor e união, que sentido faz excluir justamente quem representa o afeto puro, a espontaneidade e o futuro?

Suze Lino é empresária à frente da Petit Enfant Recreação Consciente e da Casamento Inclusivo, onde atua como wedding planner. Suze é também consultora e palestrante com foco em capacitar profissionais de casamento na realização de eventos que atendam os parâmetros de acessibilidade e inclusão.

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